Algumas citações e outras considerações - 3
O fim do trabalho?
Pela natureza dos indícios observados, a crise em que actualmente o mundo se encontra mergulhado (sem fim à vista, note-se), parece então apontar para bem mais longe do que um temporário desequilíbrio dos mercados, habitualmente destinado a ser resolvido e ultrapassado através de um suposto processo de auto-correcção. Mas se a crise apresenta contornos de poder vir a ser mais duradoura do que o esperado, é desejável – e possível – procurar detectar, nos acontecimentos que a tornam evidente, as principais tendências que se desenham no horizonte sobre alguns dos conceitos que estruturam e melhor caracterizam as sociedades actuais, como é o caso do trabalho (e dos conceitos subjacentes de emprego e desemprego) e tentar perceber a orientação básica neles contida. Insisto em Viviane Forrester e no seu ‘O Horror Económico’:“Vivemos no meio de um logro magistral, de um mundo desaparecido que nos recusamos a reconhecer como tal, e que políticas artificiais pretendem perpetuar. Milhões de destinos são devassados e aniquilados por esse anacronismo, devido a estratagemas tenazes destinados a dar como imperecível o nosso tabu mais sagrado: o trabalho.Desviado sob a forma perversa de ‘emprego’, o trabalho dá de facto fundamento à civilização ocidental, que domina por inteiro o planeta. Confunde-se com ela (...). Ora esse trabalho (...) não passa já, nos dias que correm, de uma entidade destituída de substância.Os nossos conceitos de trabalho, e portanto de desemprego, em volta dos quais se desenrola (ou finge desenrolar-se) a política, tornaram-se ilusórios (...).Os problemas das deslocalizações e da invasão de produtos muito baratos vindos do extremo oriente, resultam das leis do próprio capitalismo...num processo que conduzirá à sua própria auto-destruição.”
Quase ao mesmo tempo – já lá vai mais de uma dúzia de anos! – do outro lado do Atlântico, Jeremy Rifkin, autor do livro “O Fim do Emprego” (1995) e considerado um dos 150 pensadores que mais influenciam a política dos Estados Unidos, alertava:"Estamos a entrar numa nova era de mercados globais e de produção automatizada. O caminho para uma economia quase sem trabalhadores está à vista. Se este caminho conduz a um porto seguro ou a um terrível abismo, dependerá da forma como a civilização se preparar para a era pós-mercado que virá logo após a terceira revolução industrial. O fim do trabalho poderá significar a sentença de morte para a civilização, tal como a conhecemos. O fim do trabalho poderá também assinalar uma grande transformação social, um renascimento do espírito humano. O futuro está nas nossas mãos".
Mas mesmo que ‘esta’ crise venha a desembocar na habitual inversão dos indicadores económicos e que o capitalismo recupere de mais este abanão, tratar-se-á sempre de um desfecho provisório, à espera de uma outra solução estrutural e onde inevitavelmente se incluirá este último aviso de Viviane Forrester:“O trabalho da máquina tem hoje um tal peso na produção que não pode continuar exclusivamente em mãos privadas.”
Fim das citações e dos comentários,... por agora. Fiquemo-nos então, provisoriamente, por aqui.
AVCarvalho ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário