domingo, 10 de agosto de 2008

O pais quase imaculado

“ O pais quase imaculado ” é o título da “Crónica sem Dor”, do Publico de hoje ( link só para assinantes ), assinada por Rui Tavares, que, pela sua importância e oportunidade, e com a devida vénia ao Rui, tomo a liberdade de (re)produzir :[… «Neste pais onde os bancos “arredondaram” os empréstimos à habitação e meteram ao bolso uma média de cinco mil euros por família, os ciganos são ladrões.Neste pais onde a Operação Furacão encontrou fraude empresarial de grande escala mas não chegará a lado nenhum, os ciganos é que são dissimulados.Neste pais onde Paulo Portas não explicou quem é o famoso Jacinto Leite Capelo Rego que generosamente deu dinheiro ao seu partido ( nem explicou o “caso dos sobreiros”, nem o “caso submarinos”, nem o “caso casino” ), os ciganos é que são os malandros».[…«Ainda se vai descobrir que são os ciganos quem monta empresas manhosas onde os nossos jovens licenciados trabalham a recibos verdes.Ainda se vai descobrir que os ciganos é que estacionam os nossos carros em cima dos passeios»]( Rui Tavares – Publico,4 Agosto 2008 )Enfim, uma crónica bem ao jeito das que o Rui nos vem habituando; a não perder, simplesmente …

Carlos Borges Sousa ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
A propósito do TPI e de uma extradição

Por estes dias, um dos temas que mais tem dominado a cena internacional e, por arrasto, a comunicação social, é a prisão do líder sérvio Radovan Karadzic e a sua já consumada extradição para o TPI da ONU, em Haia – epílogo de um processo, diga-se, em que EUA e Alemanha repartem o grosso das responsabilidades por tudo o que de trágico lhe antecedeu. Produto da crescente consciência mundial de que não podem passar impunes crimes cometidos ao abrigo do poder político (‘ocupado’ seja por que método for), o TPI tem a sua principal fraqueza na auto-exclusão, entre outros, dos três principais ‘produtores de criminosos internacionais’ (na expressão de Fernando Rosas): EUA, China e Rússia.
Dou então comigo a elaborar no seguinte exercício especulativo: do que se sabe das acções políticas de Bush e Chavez, por um lado, e perante o que veicula a comunicação social sobre ambos, por outro, qual dos dois a opinião pública se apressaria a fazer seguir o mesmo caminho?De acordo com os dados objectivos actuais, sem dúvida que o único que reúne matéria para um longo cadastro e pode vir a ser incriminado é o Bush (‘dossier’ Iraque). Contudo, a avaliar pelos cânones que regem a maioria dos comentadores políticos, Bush apresenta-se ao mundo como democrata impoluto, ao contrário de Chavez que não passa de um execrando populista, proto-ditador (?), que até Sua Alteza Real de Espanha aproveitou para meter na ordem, com aquele célebre (e acrescento eu, destemperado) ‘porque no te callas’.Mas o facto de Chavez não apresentar cadastro garante-lhe, só por isso, autenticidade democrática? Claro que não, nem essa etiqueta, pelos vistos, a avaliar por Bush, é suficiente para avalizar toda e qualquer conduta.
Limito-me, pois, a registar a facilidade com que a opinião publicada (a que mais contribui para formar a opinião pública) se apressa a desprezar factos reais de gravidade criminal e a ilibar criminosos de guerra à luz dos princípios do direito internacional, a coberto do manto diáfano dos formalismos democráticos. No caso do Bush sabe-se, ainda por cima, que ascendeu ao poder de forma no mínimo dúbia dadas as condições pouco claras com que tais créditos foram obtidos: o papel nebuloso do irmão Jeff, Governador da Flórida; as trapalhadas com os cartões perfurados (!!!) na contagem dos votos; a sempre parcial constituição do Supremo; os menos 500 mil votos arrecadados que o seu adversário, a nível nacional,...

Estranhos critérios democráticos, estes! Os dos EUA (por maiores méritos que estes tenham – e têm-nos) e os dos analistas a ele enfeudados!

AVCarvalho ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
Neo-liberalismo : os retornos sociais e os retornos privados ...

«O mundo não tem poupado o neo-liberalismo, essa amálgama de ideias que tem por base a noção fundamentalista de que os mercados se auto-corrigem, aplicam recursos de forma eficiente e servem devidamente os interesses do público. [...] Os países que adoptaram políticas neo-liberais são os grandes derrotados. E por duas razões. Primeiro, não souberam tirar partido do crescimento. Segundo, e quando cresceram de facto, os benefícios ficaram essencialmente nas mãos dos que ocupam o topo da pirâmide.[…] Actualmente, existe uma grande disparidade entre os retornos sociais e os retornos privados. Se não forem alinhados, o sistema de mercado nunca poderá funcionar bem. O neo-liberalismo foi sempre uma doutrina política ao serviço de certos interesses e nunca se fundamentou em teorias económicas. [...]»Joseph E. Stiglitz, Prémio Nóbel da Economia, ( Ler, analisar e reflectir todo o artigo, aqui : «Diário Económico» )

Carlos Borges Sousa ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Tertúlia da Tabacaria Açoriana : acabou-se-me o “remanço” …

E, lá se (me) acabou o “bem-bom” …Já começava, digamos, a ficar “mal habituado”; é que, de 11 de Julho à data de ontem, a bica matinal, esta, era diariamente saboreada num local de culto de Ponta Delgada, a Tabacaria Açoriana…Ponto de encontro, local de confluência diária, digamos que obrigatório, da intelectualidade micaelense; dos "doutorados" em futebolística, mas não só !..Hoje, contudo, tive “falta de comparência” … Regressei a casa. A Lisboa.Não tive tempo nem oportunidade de me despedir de todos e de cada um; a não ser, claro, dos mais “chegados” …Até o Manuel Bonifácio - um grande Amigo “americano” - e com quem ultimamente almoçava quase todos os dias, não teve lugar a despedida(s)…Talvez porque, como ilhéu, sempre fui muito mais dado à(s) chegada(s) do que à(s) partida(s)… Enfim, até qualquer dia ... e, até lá e por favor, não se esqueçam de ser Felizes !..(*) à excepção do Serafim, de preto e "lagarto", todos os demais são Benfiquistas; sendo que, por aqui, cada um é muitíssimo mais Benfiquista que o(s) outro(s); e, assim e por isso, uns são "Benficóites", outros "Benfiqueses", havendo, ainda e tal como eu e o Rogério, os BEnfiquistas; o meu grande Amigo Gustavo - qual "Magnifico Reitor" da Tertulia - é que não está, ainda e agora, "classificado"; pelo menos, enquanto o Miguel não conseguir convencer-Lhe - e tenho, cá, uma "fézada" que o irá conseguir - que o futebol é, afinal, mesmo e só, um jogo, um jogo de futebol ... que (nos) pode dar "cabo" do coração !..

Carlos Borges Sousa ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
O tabuzinho de Cavaco : não havia necessidade…

Cavaco Silva é bem mais eficaz com a “gestão” de tabus, dos seus tabus, do que com a “produção” de pensamento(s); de resto, quanto a pensamento(s), e para além do óbvio, pouco ou quase nada se conhece de Cavaco …Vendido à exaustão como insigne professor, como conceituado académico, não se conhece, de Cavaco, uma qualquer obra, um qualquer pensamento digno de registo ..Aliás, diga-se e em abono da verdade, que chegou onde chegou, mais pelo que não “disse”, do que propriamente por quaisquer compromissos assumidos; a não ser, claro, com quem o apoiou e financiou. Cavaco, a quem alguém, um dia e com muita felicidade, etiquetou de “Esfinge” é assim mesmo : não gosta de se comprometer !..Desta feita, Cavaco, qual “Esfinge” e em queda nas sondagens, entendeu falar ao pais, aos portugueses …Utilizou, para o efeito, um tabu, mais ao jeito de tabuzinho para, e até há hora do jantar, manter o país em suspenso…Porém, esta “Conversa em Família” sobre o Estatuto Politico-Administrativo da Região Autónoma dos Açores, pecou, em meu entender, por ser inócua, desnecessária e inoportuna; bastaria, para o efeito e tal como se impõe, Cavaco ter enviado os seus “recados” para a Assembleia da Republica que será, quem de direito e para o efeito, terá que dirimir esta questão…Ora, o Estatuto foi previamente discutido e aprovado no Parlamento Regional e, só depois, na Assembleia da Republica; no caso dos Açores, foram aprovados por unanimidade, quer no Parlamento Regional, seja na Assembleia da Republica…Cavaco, centralista, não gostou da “ousadia” do Estatuto; tinha 13 (treze) dúvidas o que, de resto, é legítimo e, assim, remeteu-as para o Tribunal Constitucional para efectiva fiscalização que, entretanto, só validou 8 (oito) das 13 (treze) dúvidas de Cavaco.Agora, só importa(rá), mesmo, que a versão final do Estatuto, corrigidas as inconstitucionalidades verificadas pelo Tribunal Constitucional, seja aprovada.Tão rapidamente quanto possível para que, assim, a Região Autónoma dos Açores possa ver reforçada a sua autonomia e a competência dos Órgãos Regionais.Tão simples quanto isso : como “manda” a democracia …Quanto a Cavaco : Senhor Presidente, não havia necessidade !..É que, assim, o senhor "comprometeu-se" : sabia ?..

Carlos Borges Sousa ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
Racista, o Presidente da Junta de Benfica ?..

Domingos Alves Pires é o actual presidente da Junta de Freguesia de Benfica, eleito pelas listas do PSD.É acusado de racista por Glória Monteiro que, de há vinte anos a esta parte, é funcionária da respectiva Junta de Freguesia.É considerada pelos colegas como uma colaboradora dedicada, desempenhando as suas funções com zelo e profissionalismo, tendo-lhe o anterior executivo atribuido um mérito excepcional.Porém, com Domingos Alves Pires, o actual Presidente da Junta, já foi, e por diversas vezes, insultada e humilhada, à frente de colegas e utentes do Centro Clínico, da Secretaria e do Sector da Cultura da Freguesia de Benfica.Glória Monteiro, que é trabalhadora-estudante, requereu férias que lhe foram indeferidas pelo Presidente. Entendeu, por isso, questionar o Presidente, tendo tido como resposta : «… eu sou a entidade patronal e eu decido quando vai de férias, e não se atreva a faltar os cinco dias de faltas injustificadas que dá direito a processo disciplinar e despedimento com justa causa »Glória Monteiro, cansada e não suportando tanta e tamanha humilhação, ter-lhe-á respondido : «… pode instaurar-me um processo disciplinar, pois é o que o senhor tem tentado desde o primeiro dia que aqui chegou. O senhor persegue-me por racismo. Ainda ontem se referiu a mim como “preta”. O Senhor é um racista, e um Presidente, eleito pelo povo, para ser respeitado, tem que respeitar os funcionários independentemente da sua raça, cor ou religião »Glória Monteiro não só foi obrigada a gozar as férias no período imposto pelo Presidente, tendo-lhe este instaurado um processo disciplinar que culminou em 30 dias de suspensão sem vencimento.Enfim, este é o perfil de Domingos Alves Pires, um Presidente de Junta, da Junta de Freguesia de Benfica, que tem pautado a sua actuação de forma arrogante e autoritária, recorrendo ao insulto fácil e gratuito nas sessões da Assembleia de Freguesia, e à perseguição continuada de funcionários.E, tudo isso, revelando um total desprezo pela lei e, por enquanto, com um grande sentimento de impunidade.Já agora, e para terminar, uma denuncia que, em tempo, o SOS-Racismo formalizou e que demonstra, e bem, as tendências racistas do actual Presidente da Junta de Freguesia de Benfica :- Domingos Alves Pires, enquanto administrador de um prédio situado na Rua República da Bolívia, recusava-se a receber a renda de uma inquilina originária de São Tomé e Príncipe. Esta situação arrasta-se desde Abril de 2006 e a vítima de descriminação foi sucessivamente ameaçada de despejo, afirmando Domingos Alves Pires que a iria “mandar para a sua terra”...E, assim, no Séc. XXI e com Presidentes de Junta deste jaez, se vai "fazendo" Portugal ...Até quando ?..

Carlos Borges Sousa ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
Algumas citações e outras considerações - 3

O fim do trabalho?

Pela natureza dos indícios observados, a crise em que actualmente o mundo se encontra mergulhado (sem fim à vista, note-se), parece então apontar para bem mais longe do que um temporário desequilíbrio dos mercados, habitualmente destinado a ser resolvido e ultrapassado através de um suposto processo de auto-correcção. Mas se a crise apresenta contornos de poder vir a ser mais duradoura do que o esperado, é desejável – e possível – procurar detectar, nos acontecimentos que a tornam evidente, as principais tendências que se desenham no horizonte sobre alguns dos conceitos que estruturam e melhor caracterizam as sociedades actuais, como é o caso do trabalho (e dos conceitos subjacentes de emprego e desemprego) e tentar perceber a orientação básica neles contida. Insisto em Viviane Forrester e no seu ‘O Horror Económico’:“Vivemos no meio de um logro magistral, de um mundo desaparecido que nos recusamos a reconhecer como tal, e que políticas artificiais pretendem perpetuar. Milhões de destinos são devassados e aniquilados por esse anacronismo, devido a estratagemas tenazes destinados a dar como imperecível o nosso tabu mais sagrado: o trabalho.Desviado sob a forma perversa de ‘emprego’, o trabalho dá de facto fundamento à civilização ocidental, que domina por inteiro o planeta. Confunde-se com ela (...). Ora esse trabalho (...) não passa já, nos dias que correm, de uma entidade destituída de substância.Os nossos conceitos de trabalho, e portanto de desemprego, em volta dos quais se desenrola (ou finge desenrolar-se) a política, tornaram-se ilusórios (...).Os problemas das deslocalizações e da invasão de produtos muito baratos vindos do extremo oriente, resultam das leis do próprio capitalismo...num processo que conduzirá à sua própria auto-destruição.”
Quase ao mesmo tempo – já lá vai mais de uma dúzia de anos! – do outro lado do Atlântico, Jeremy Rifkin, autor do livro “O Fim do Emprego” (1995) e considerado um dos 150 pensadores que mais influenciam a política dos Estados Unidos, alertava:"Estamos a entrar numa nova era de mercados globais e de produção automatizada. O caminho para uma economia quase sem trabalhadores está à vista. Se este caminho conduz a um porto seguro ou a um terrível abismo, dependerá da forma como a civilização se preparar para a era pós-mercado que virá logo após a terceira revolução industrial. O fim do trabalho poderá significar a sentença de morte para a civilização, tal como a conhecemos. O fim do trabalho poderá também assinalar uma grande transformação social, um renascimento do espírito humano. O futuro está nas nossas mãos".
Mas mesmo que ‘esta’ crise venha a desembocar na habitual inversão dos indicadores económicos e que o capitalismo recupere de mais este abanão, tratar-se-á sempre de um desfecho provisório, à espera de uma outra solução estrutural e onde inevitavelmente se incluirá este último aviso de Viviane Forrester:“O trabalho da máquina tem hoje um tal peso na produção que não pode continuar exclusivamente em mãos privadas.”

Fim das citações e dos comentários,... por agora. Fiquemo-nos então, provisoriamente, por aqui.

AVCarvalho ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
Algumas citações e outras considerações - 2

Os ‘trabalhos’ do mercado

Sucedem-se, ultimamente, vindos das mais variadas proveniências, os alertas e as considerações sobre a crise económica e social implantada. Enquanto aos políticos da ‘situação’ cabe o papel de nos ‘entreter’ com frases repletas de um optimismo cínico (na esperança, admito, de tentarem contrariar o seu aprofundamento), os da oposição alternante apostam no papel contrário (na expectativa de, por essa via, surripiarem o poder aos da ‘situação’). Os mais descomprometidos, contudo, arriscam comentários menos alinhados com este tipo de estratégias, talvez por isso porventura mais próximos da realidade. Foi o caso recente do multimilionário (entre muitos outros epítetos) Georges Soros, ao afirmar que ‘esta’ crise ainda apenas começou, pelo que o pior estará ainda para vir.Mas não era necessário tão proeminente figura dar-se a essa maçada, retirando tempo às suas muito rentáveis actividades especulativas, apenas para nos elucidar de uma coisa que, a pouco e pouco, todos vão acabando por sentir. É certo que ninguém arrisca pronunciar-se ou estabelecer estimativas fiáveis sobre a evolução da economia ou do emprego no curto prazo, escaldados com as sucessivas revisões dos agregados macro-económicos a que os Institutos especializados têm sido obrigados nos últimos meses. Do que certamente todos estão à espera é do regresso aos gloriosos anos dourados de um capitalismo de crescimento ilimitado, porventura com alguns acertos na sua estrutura – de acordo, aliás, com os cânones clássicos – a desequilíbrios temporários, que a regulação do mercado se encarregará de corrigir, mais cedo ou mais tarde, com mais ou menos dificuldades.Desta vez, porém, os mais lúcidos dentre os ideólogos do sistema, Soros incluído, parecem não acreditar completamente numa recuperação ‘sem sangue’. Admitem mesmo que ‘os fundamentalistas do mercado’ (a expressão é do próprio Soros) foram longe de mais na crença ilimitada de um capitalismo auto-regulado, como base imprescindível para a organização de uma sociedade perfeita (o fim da história?). É o que sugere aquele guru financeiro no seu mais recente título no ‘mercado’ editorial português (‘O novo paradigma para os mercados financeiros – a crise de crédito de 2008 e as suas implicações’):“Estamos no meio de uma crise financeira como não se via desde a Grande Depressão (...)”, que “não se pode comparar às crises periódicas (...)” que vêm ocorrendo “desde a década de 80 (...). Esta crise não se limita a uma empresa, ou segmento em particular do sistema financeiro; colocou todo o sistema à beira de um colapso e está a ser contida com grande dificuldade. Isto terá consequências abrangentes. Não é uma crise como as outras, mas o fim de uma era.” Para a tentar caracterizar, distinguindo-a da bolha imobiliária que a originou, fala mesmo de uma ‘super-bolha de longo prazo’, produzida por “uma confiança excessiva no mecanismo do mercado” – o ‘laissez-faire’ da versão clássica, ‘a magia do mercado’ da versão artística (do actor Reagan), o ‘fundamentalismo’ da versão do próprio Soros (irritado, porventura, por a crendice de alguns dos seus correligionários, poder vir a pôr em risco todo o sistema, nele baseado).A questão está então só em saber se estas ‘bolhas’ traduzem apenas excessos do modelo (como pretende e advoga a doutrina oficial), ou se é da própria natureza da ‘coisa’ esta tendência para o abismo (sem receio nem pudor pelos falsos alarmismos), ameaçando arrastar-nos com ela. Por mim, não tenho dúvidas: há muito que venho insistindo na tese de que a ‘coisa’ é mesmo assim – e só admite uma solução, removê-la!

AVCarvalho ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
Algumas citações e outras considerações - 1

O desperdício do trabalho

No contexto da actual crise económica, é simplesmente dramática a situação de um número crescente de pessoas sem ‘emprego’: de um lado, jovens à procura de trabalho compatível com as suas qualificações e que apenas conseguem, na esmagadora maioria das vezes, ocupações de tarefeiros, a prazo; do outro, trabalhadores ‘em fim de carreira’ (à falta de melhor designação), empurrados para o despedimento, a rescisão contratual ou, na melhor das hipóteses, a reforma antecipada, por, adiantam os seus decisores, excesso de mão-de-obra nas empresas ou inadequação tecnológica às exigências da função. Como quer que seja, o capitalismo parece encurtar cada vez mais as hipóteses de ocupação para quem procura trabalhar, assistindo-se, em contrapartida, à aparente contradição da sobrecarga imposta aos trabalhadores que têm a sorte de ainda manter os seus postos de trabalho.Ninguém consegue fazer o balanço do que isto significa em desperdício de capacidades e, por conseguinte, de riqueza desaproveitada (para falar nos exactos termos do sistema). O maior desperdício das sociedades capitalistas verifica-se, afinal, no desaproveitamento dos seus ‘recursos humanos’ (mais uma vez a terminologia do sistema), os únicos que, no fim de contas, conseguem valorizar o capital, aumentar-lhe os lucros. Difícil de entender? Nem por isso. Os incríveis aumentos da produtividade conseguidos nos últimos 30 anos à conta dos avanços tecnológicos e da automação, em lugar de contribuírem para a redução do tempo de trabalho por ‘unidade empregada’ (na lógica da História e como havia sido prognosticado), têm sido utilizados pelas empresas apenas para reduzir ‘gastos salariais’ – o que significa sobretudo reduzir postos de trabalho – em benefício exclusivo da... valorização do capital (obviamente, na lógica do capital)!A principal consequência desta aparente ‘contradição histórica’ foi posta em evidência pela economista, romancista, jornalista e ensaísta Viviane Forrester, há já alguns anos, no seu livro ‘O Horror Económico’ (1996):“Parte do trabalho humano está a morrer e outra parte do trabalho está a ser deslocalizado (até morrer). O problema fundamental não pode ser resolvido com a luta pelo emprego (porque este está a desaparecer), mas com a luta pela distribuição da riqueza criada. As mercadorias físicas e os serviços têm cada vez menos mão de obra incorporada. Isso pode ser comprovado em qualquer fábrica e em qualquer escritório. Os downsizings e as reduções de pessoal não se devem a deslocalizações, mas sim à automatização, à robotização e à informatização. (...)E corrobora, noutro registo muito relacionado com este, um dos pressupostos – e ao mesmo tempo consequência – desta ‘lógica do capital’:“Hoje há muita coisa que não se produz, não porque não haja tecnologia ou pessoas carenciadas, mas porque não se «vende». Ou seja, porque não há pessoas com poder de compra para as adquirir (embora tenham necessidade delas).”

AVCarvalho ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
A insustentável leveza de “ser” do PS, deste PS …

São muitos e variados os “queixumes” que militantes anónimos do PS vão debitando nos bastidores das organizações às quais pertencem; em surdina, muito em surdina, mas recorrentemente vão urdindo contra o “menino de ouro” sérias e fundadas críticas quanto ao modus operantis do partido do governo sem que, destas contestações, e porque mui provavelmente tratando-se de militantes anónimos, os OCS emprestem quaisquer ecos.Desta feita, porém, os OCS dão noticia de uma “Carta Aberta” dirigida ao secretário-geral do PS, subscrita por um grupo de destacados militantes do distrito de Viseu - Joaquim Sarmento (ex-presidente da Câmara de Lamego ) Jorge Silva, João Botelho, Paula Rodrigues e Júlio Barbosa - denunciando :«o PS onde nada se debate e há uma claustrofobia asfixiante, está cada vez mais reduzido à participação dos que ocupam cargos políticos».Escrevem que : «um verdadeiro PS que lute contra a total submissão ao poder económico» em que «uns são cidadãos mais iguais que outros».Alertam para «o país dos que têm poder económico e político, as mordomias, os salários chorudos e o país dos cidadãos que vêem com pavor o seu nível de vida a afundar-se, sem rendimentos para pagar as prestações da casa e os alimentos essenciais».Referem «a exasperante posição de muitos deputados que noutras crises e lideranças arriscaram os seus confortáveis cargos em prol da liberdade crítica e do pluralismo de ideias e, que hoje se calam».Denunciam, também, a actual liderança de José Sócrates de se render «à lógica do mais puro economicismo, destruindo o Serviço Nacional de Saúde, subvertendo o ideário da escola humanista e desvalorizando o papel do professor e da formação cultural do aluno».No que concerne à justiça, referem que «está um verdadeiro lodaçal, sendo uma trincheira dos que têm mais posses e mais meios, em detrimento das classes mais desfavorecidas».Pode, ainda, ler-se que «há uma grande responsabilidade do actual Governo, cujas reformas, na óptica da obsessão da redução do défice, tem penalizado primordialmente os mais pobres e carenciados».Enfim, nada que não se soubesse que se “passe” no PS, neste PS; sublinha-se e regista-se, contudo, a importância da atitude destes militantes que, com esta “Carta Aberta” denunciam que, afinal e no reino do PS, o "rei vai nu"...

Carlos Borges Sousa ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
Casmurrice e/ou "camurrice" ?..

João Cravinho, ex-deputado do PS, ex-ministro das obras públicas do PS, actualmente a viver e a trabalhar em Londres onde é administrador do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), para o qual foi formalmente convidado por José Sócrates, o “dono” do PS, após e enquanto deputado ter apresentado um “pacote” de medidas de combate à corrupção que, em tempo e na Assembleia da República, o PS se encarregou de chumbar, foi o convidado de “Diga lá, Excelência” …Na entrevista que, pelos vistos, deixou o PS em “estado de sítio” - e que pode e deve ser lida, e com muita atenção, AQUI -, João Cravinho não só faz a avaliação da corrupção em Portugal, como explica os seus contornos e denuncia a putativa inércia do recém-criado Conselho para a Prevenção da Corrupção (CPC) …O PS, lesto e pela voz de Alberto Martins, no seu bom estilo de truculência retórica que, e cada vez mais, se vem afirmando como a “voz do dono”, lá RESPONDEU diga-se que : cobardemente, de forma intelectualmente muito cobarde, atacando o mensageiro e não discutindo - porque, pelos vistos, não interessa ao PS, a este PS - ignorando totalmente e propositadamente a mensagem.O PS, no que ao combate à corrupção respeita, não consegue explicar ao país e aos portugueses a razão de ser do seu comportamento tão ínvio e tão dúbio nesta matéria.De facto, e em meu entender, o combate à corrupção “pratica-se e não vive de proclamações” como arrogantemente insinuou Alberto Martins.Pena é que Alberto Martins não se dê conta que, neste PS, é cada vez mais e só : a “voz do dono” …É pena: quem te viu e quem te vê, Alberto Martins !..

Carlos Borges Sousa ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
O direito à realidade e as ‘muitas verdades’ da justiça

Depois de uma ausência forçada de alguns dias, imaginem para o que me havia de dar precisamente no recomeço da minha habitual contribuição por aqui.Pois é, dei-me ao trabalho de ler, na íntegra (137 páginas!!! – mas de muito fácil leitura, digo-o já), o parecer de Freitas do Amaral sobre a célebre reunião do CJ da FPF de 4 de Julho passado. Em boa hora o fiz, pois trata-se de uma peça notável, a todos os títulos e onde se aprende muito: desde logo pelo encadeamento lógico dos assuntos – por isso se torna tão fácil a sua leitura – mas sobretudo ao nível da fundamentação jurídica, que aparece sempre – eis para mim a sua grande valia (para desgosto e talvez surpresa de muitos) – ancorada na fundamentação factual (normalmente os juristas ‘tipo Marcelo’ preferem baralhar os leigos com habilidades jurídicas manhosas!). A ligação entre os factos e as leis – afinal a realidade a que temos direito – surge tão evidente e tão fácil de entender que apetece mesmo perguntar porque é que o ‘Direito’ não é utilizado e explicado sempre assim!As reacções, ainda tímidas (o nome ‘Freitas do Amaral’ impõe respeito e porventura intimida mesmo os mais descarados – que os há, apesar de tudo!), apressam-se a valorizar contrapondo, o que de mais vulgar se tem produzido sobre a matéria: as irregularidades processuais em que os tribunais se têm entretido, as escutas que não deviam ter escutado nada (por acaso nem para aqui são chamadas!), que este documento não passa, afinal, de mais um parecer, que o que conta são mesmo as decisões dos tribunais.Talvez. A avaliar pelo estado autista (para dizer o mínimo) dos nossos juízes, nem me custa a acreditar que tudo isto não passe de mais uma débil, ainda que nobre, tentativa de dotar a justiça de meios diferentes e menos poluídos (perdão, corruptos) de fazer vingar a verdade. A todos os níveis e em todos os sectores. O estado catatónico que os poderes instituídos revelam perante os abusos mais descarados pode ser que tenha explicação precisamente na falta de energia para os enfrentar, mas persiste e aprofunda-se a dúvida sobre se a razão principal não é mesmo a de que eles próprios tiram partido desses abusos.Para já fico à espera das reacções mais aguardadas: a de Pinto da Costa e de mais uma das suas habituais boçalidades a puxar para a ironia trouxa; a de Marcelo, que opina sobre tudo com a prosápia burlesca de uma personagem extraída das peças de Moliére.

AVCarvalho ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )
Código Laboral : A Verdade da Mentira …

Ontem, num debate sobre a revisão do Código de Trabalho, promovido no seio do grupo parlamentar do PS, José Sócrates afirmou que “se o Bloco de Esquerda e o PCP quiserem discutir, terão pela frente um PS mobilizado, que vai denunciar todos os embustes e a demagogia”Hoje, na reunião da Comissão Permanente da Assembleia da Republica, Luís Fazenda, líder do Grupo Parlamentar do BE, RESPONDEU a José Sócrates, afirmando :"O único verdadeiro embuste é que esse partido que dá pelo nome PS não apresentou as propostas de alteração ao Código do Trabalho a que se tinha comprometido quando estava na oposição, apresentou outras"Este é, de facto, o verdadeiro drama deste PS : o embusteEste PS, com José Sócrates, está longe, muito longe de praticar uma politica dita socialista; cada vez está mais parecido com o PSD.E, só por um grande embuste não “virou”, ainda e agora, PS(D)…

Carlos Borges Sousa ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )