segunda-feira, 30 de junho de 2008

Uma (outra) Verdade Inconveniente

A Oxfam, uma organização não-governamental dedicada ao combate à pobreza no mundo, divulgou um relatório, «Another Inconvenient Truth», no qual diz que a substituição de combustíveis tradicionais por biocombustíveis levaram mais de 30 milhões de pessoas à pobreza e em nada contribuem para combater as alterações climáticas. Segundo o documento, as chamadas «políticas verdes« dos países desenvolvidos contribuirão para o aumento dos preços dos alimentos, o que atinge mais os pobres. O texto cita dado do Banco Mundial, que estima que o preço dos alimentos subiu 83 por cento nos últimos três anos.
O relatório da Oxfam crítica os subsídios e incentivos fiscais concedidos por países ricos para apoiar sua própria produção de biocombustível. Os países ricos gastaram cerca de 15 mil milhões de dólares no ano passado para apoiar a produção de biocombustíveis ao mesmo tempo em que impedem a entrada do etanol brasileiro, que é mais barato e que é muito menos prejudicial para a segurança alimentar global e para o meio ambiente, afirma este relatório. Este é o mesmo montante, segundo a Oxfam, necessários para ajudar os pobres a enfrentarem a crise de alimentos.
Para a Oxfam o etanol brasileiro é o mais favorável biocombustível do mundo. O relatório afirma que:
«Embora a produção de etanol brasileiro esteja longe de ser perfeita e apresente vários problemas sociais e de sustentabilidade ambiental, este é o mais favorável biocombustível no mundo em termos de custo e equilíbrio de gases do efeito estufa». O documento inclui uma comparação com o biocombustível proveniente do milho produzido nos EUA, dizendo que sua produção é muito dependente de combustíveis fósseis, representando «um dos piores» equilíbrios entre gases do efeito estufa e uso de energia. O relatório pede ainda à União Europeia que cancele a meta de fazer com que 10 por cento dos transportes usem biocombustíveis até 2020. A Oxfam estima que a meta da UE pode multiplicar as emissões de carbono 70 vezes até 2020.

Carlos Borges Sousa ( Publicado, originalmente, em : http://quebrarsempartir.blogspot.com/ )

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Vale e Azevedo : o “bobo” e/ou o único “troféu” da justiça portuguesa ?..

Vale e Azevedo está, de novo e por via da comunicação social, na ordem do dia.Lê-se, nos jornais, que habita numa luxuosa “mansão” e desloca-se num Bentley com motorista. Em Londres.Há oito anos que Vale e Azevedo “anda” a ser julgado. Cumpriu seis anos de prisão. De cadeia; atrás das grades.Vale e Azevedo, até parece que, por toda essa Comunicação Social (nos) é apresentado como um herói. Não como um bandido.O problema, o grande problema é que Vale e Azevedo é exibido como praticamente o único “troféu” da justiça portuguesa nos/dos negócios de “colarinho branco”.Repito : o único “troféu” da justiça portuguesa.Bem se esfalfa Sua Excelência o Senhor Procurador Geral da Republica a explicar, ao país, que “tudo e todos são investigados em Portugal”.É verdade. Sabe-se, lê-se nos jornais e ouve-se nas Tvs que Bancos, Comendadores, Operações Furacão estão em curso.Porém, todavia, contudo não há quaisquer consequências.Pelo menos não se “vê” resultados.Não se “vislumbra” que um qualquer “colarinho branco” à excepção, claro, de Vale e Azevedo, haja sido condenado; que tenha sido, tal qual Vale e Azevedo, preso.Ninguém, pelo menos, que se saiba. Ninguém que a Comunicação Social tenha, pelo menos, publicitado.A safadeza é condenável, venha de onde vier, e toda ela, a safadeza, merece censura e, assim e por isso, acho que todos os criminosos, depois de devidamente julgados, devem pagar pelos seus actos.Porém, e em Portugal, não se “vê”, não se “sente” que a justiça esteja realmente a funcionar.Pelo menos, e enquanto cidadão, é legitimo que me interrogue, que me preocupe e que exija que a justiça, no meu País, possa funcionar por forma a que não aconteça que "uns ladrões roubam e são enforcados; outros roubam e enforcam" como refere o Padre António Vieira no Sermão do Bom Ladrão.Enfim, toda esta “cena” com Vale e Azevedo é, infelizmente e em meu entender, uma derrota da/para a Justiça Portuguesa.
Carlos Borges Sousa ( Publicado, originalmente, em : http://quebrarsempartir.blogspot.com/ )
Para que a Mentira não tome conta da Verdade !..

Manuel Loff, historiador e professor de História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, acaba de lançar um livro intitulado “ O Nosso Século é Fascista ! – O mundo visto por Salazar e Franco”, onde analisa as ditaduras Ibéricas.Neste livro, Manuel Loff sustenta que “ é claro que houve fascismo em Portugal e que o salazarismo foi a adequação que as direitas portuguesas fizeram de um modelo fascista à conjuntura portuguesa”Ora, numa altura em que uns “artistas”, e numa clara tentativa de/do branqueamento do regime fascista de Salazar, tentam lançar a confusão quanto ao modelo político, social, cultural e económico seguido por Salazar é importante, muito importante o aparecimento deste livro.Manuel Loff, (em)presta, assim, um excelente contributo para que, afinal e no “tempo” da ditadura fascista de Salazar, a Mentira não tome conta da Verdade.Leia, a este propósito, aqui uma entrevista de Manuel Loff ao DN.
Carlos Borges Sousa ( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )

sexta-feira, 20 de junho de 2008

A propósito da exigência de um novo paradigma na organização das sociedades

O tema nunca perde actualidade e até parece gerar consenso. Todos defendem mais desenvolvimento, que a maioria – e o poder em geral – reduz a crescimento. Contudo, apostar em mais crescimento económico, hoje, implica um esforço tão desmedido sobre a natureza e o ambiente que o resultado, a breve prazo, será acentuarem-se ainda mais as já muito degradadas condições de existência na Terra. Esta realidade impõe-se já com tal evidência que até sectores da corrente neoliberal (como o virtual candidato a líder do PSD, Neto da Silva), sem abdicarem da fé nas virtudes do mercado, percebem que, a manter-se a actual tendência predadora na utilização de recursos finitos, a vida na Terra vai tornar-se insustentável, a Humanidade pode caminhar para a sua extinção. A ideologia do crescimento contínuo, base inquestionável da actual Globalização Competitiva, conduzirá, afirmam, “ao esgotamento do Planeta”, pelo que deve “ser substituída por uma ideologia do crescimento possível, assente na maior eficiência ambiental, social e económica, por esta ordem de prioridades”.Mas também esta alternativa – designada por ‘Desenvolvimento Sustentável’ – parece ter, há muito, perdido a sua oportunidade. O insuspeito J. Lovelock considera que ela incorre no mesmo erro do “laissez-faire”: a crença de que mais desenvolvimento é possível pelo menos ainda durante a 1ª metade deste século (não há limites para a inconsciência e o egoísmo!!!). Talvez o fosse, acrescenta, “há 200 anos, quando a alteração era lenta (...), mas agora é tarde de mais”. Aconselharia, pois, o bom senso (se o bom senso aqui fosse a norma) que, em lugar de ‘desenvolvimento sustentado’ (que não abdica de mais crescimento económico), se falasse antes em ‘estabilização sustentada’, o que é, reconhece-se, uma impossibilidade prática, face às características de funcionamento do nosso insustentável ‘modo de vida ocidental’. Certo é que este insaciável desenvolvimento produtivista/consumista, assente no modelo hipercompetitivo e predador do mercado, já não tem mais condições para se regenerar. O crescimento ilimitado do mercado, imposto pela lógica do valor, choca-se com um mundo de recursos limitados: o mercado tende inevitavelmente para a sua própria autodestruição. Resta saber o que (e quem) vai arrastar consigo nessa vertigem descontrolada. É por isso que se torna indispensável a construção de um novo paradigma de organização social (a partir da rejeição do actual paradigma mercantil), porventura baseado na sociedade do conhecimento e contando não só com a actual revolução informacional (que se tem demonstrado devastadora dos hábitos e costumes tradicionais), como sobretudo com uma revolução comportamental, de efeitos mais lentos mas mais decisivos que os da anterior.Mas isso seria já o começo de uma outra história...

Por : AVCarvalho
( Publicado, originalmente, em : http://www.quebrarsempartir.blogspot.com/ )